Copenhague - Dinamarca, 16 de novembro de 1962
"Existem pessoas e pessoas. E muitas situações. Pessoas que sonham, e logo acordam; pessoas que correm atrás de seus sonhos; e pessoas que têm seus sonhos desfeitos ou negligenciados..".
Então diário...
Essa manhã ao acordar, me dei conta de algo que já deveria ter percebido.Pensei e principalmente senti que o meu fim está próximo, a trombose já me afeta bastante e agora meu corpo se resume a dor.
Entretanto ao analisar a situação por outro ângulo, percebi que cheguei a um lugar de importância que nunca imaginei. Quem diria que um garoto que estudava na escola de gramática de Gammelholm cujas pretensões se resumiam a estudar, descobrir e amar chegaria até este ponto? E do auge de meus 77 anos posso afirmar que a sorte caminhou ao meu lado.
É, coisas estranhas acontecem com indivíduos comuns,assim como eu, mas não começou do nada, na verdade o início de tudo, de fato, ocorreu em 7 de outubro de 1885, um dos dias mais especiais para meus pais Ellen Adler e Christian Bohr, e para meus irmãos Jenny e Harold, o dia do meu nascimento! Aconteceu aqui mesmo em Copenhague, na casa de minha avó materna, o Palácio Rei Georg, que ainda se considerava a mais bela residência da localidade.
E por sinal devo tudo a eles, meus queridos pais, que exerceram suas funções como tais, ensinando a mim e meus irmãos coisas maravilhosas e valores preciosos dentro de nossas crenças, principalmente minha mãe, uma mulher judia.
Meu pai fora, também, um homem de vital importância em nossas vidas. Professor e detentor do saber de que só o conhecimento proporcionaria à humanidade vôos mais altos, incentivou a mim, principalmente, de tal maneira, ao ponto de fazer-me encantar pelos estudos e pela ciência. Recordo-me de tantos fatos familiares... Como, o quanto eu e meu irmão Harold, já sendo alunos da universidade de Copenhague, sonhávamos em ser jogadores de futebol, já éramos até conhecidos nos países escandinavos como membros iminentes dos times "dinamarqueses todos"! Éramos excelentes é claro! Este era o ano de 1908.
Mas, foi em 1903 que entrei na escola de gramática de Gammelholm e, seis anos depois, o meu mestre C. Christiansen outorgou-me com mestrado em física, e depois de 2 anos fui à busca do doutorado que em 1911acabei por conseguir.
A partir de então comecei, de fato, a deparar-me com as situações e realidades que me trouxeram até aqui. Não me lembro ao certo onde, mas provavelmente na universidade, ouvi falar sobre um desafio da sociedade cientifica dinamarquesa. Eles estavam propondo um problema científico de como poderíamos medir a altura de um arranha-céu usando um barômetro. Já estava cansado das respostas comuns, então propus o seguinte:
"Amarre uma longa corda à parte mais alta do barômetro, a seguir faça baixar o barômetro do telhado do arranha-céu até o chão. O comprimento da corda mais o comprimento do barômetro será igual à altura do edifício."
Depois de muita aversão por parte dos juízes e de ter provado minha teoria, dito e feito! Ganhei uma medalha de ouro e um arquivo publicado na "Transactions of the Royal Society".
Ainda em 1911 mudei-me para Cavendish em Cambridge, Inglaterra, e lá tive a incrível oportunidade de trabalhar com J.J. Thomson, e ali mesmo conheci um de meus melhores amigos: Ernest Rutherford, com quem fui trabalhar um ano depois em Manchester.
E lá, no ano de 1912, o primeiro momento mais feliz da minha vida: casei-me com Margrethe Nnorlund, o meu grande amor! Lembro-me perfeitamente. Era uma linda manhã de verão e Margrethe estava bonita como nenhuma outra, o vestido branco me hipnotizou e os olhos lindos dela me dominaram, e dominam até hoje é claro! Essa mulher espetacular me deu muitos presentes, entre eles os meus seis filhos, apesar de dois, infelizmente, terem morrido.
Mas, voltemos a falar sobre Ernest. É, ele me ensinou muitas coisas, não foi à toa que um de meus filhos recebeu seu nome em homenagem, mas de fato, o maior presente de Ernest para mim, foi a experiência que adquiri!
Foi por causa dele e de seu modelo atômico que, em 1913, fui capaz de me aprofundar mais nos estudos sobre o assunto, descobrindo assim uma pequena falha em seu modelo:
Ele afirmava que os elétrons eram fixos, porém certa vez ao observar e estudar átomos de hidrogênio, descobri que, na verdade, eles estavam dispostos de uma maneira diferente, se movendo em trajetórias circulares ao redor do núcleo. Descobri também que eles podiam saltar de uma camada para outra, desde que absorvessem energia externa.
Publiquei esse novo modelo em relação à teoria quântica de Planck, estudo que estendi até chegar a essa conclusão. Os elétrons absorvem e emitem energia radiante, fenômeno particularmente visível na análise dos espectros luminosos produzidos por diferentes elementos. Descobri também que os elétrons não emitiam radiações enquanto permanecesse na mesma órbita, emitindo-as apenas quando deslocado de um nível de maior energia para um nível mais distante do núcleo, onde a sua energia cinética tende a diminuir enquanto que sua energia potencial tende a aumentar.
No entanto, minha tese não foi bem aceita, não ainda, pois tive que esperar 9 anos!
Ah! Neste ano também publiquei, na "Philosophical Magazine" um artigo sobre a absorção dos raios alpha, onde tive como base o modelo atômico de Rutherford.
Com 28 anos de idade, já era um físico famoso e com uma brilhante carreira. Foi aí, que em 1914 recebi um convite muito bom, e o aceitei! Trabalhei como professor de física teórica na universidade de Victoria, em Manchester, meus alunos tiveram que me suportar até 1916 quando retornei a Copenhague e lá me tornei professor.
Durante quatro anos ali atuei como professor, até que em 1920 fui nomeado diretor do Instituto de Física Teórica. Foram anos revolucionários! A cada dia que passava eu via nascer um novo gênio. E vi nascer um gênio literalmente, pois nesse ano nasce meu quarto filho, Aage Niels Bohr, este que também seguiu pelos mesmos caminhos que eu tomei, tornando-se um esplêndido físico. Aaté que em 1922 as coisas viraram.
Neste ano o tão esperado aconteceu! Eu finalmente recebi o comunicado de que a minha teoria sobre o modelo atômico em relação à teoria de Planck estava correta (algo que eu sempre soube). É gratificante sermos reconhecidos por nossos trabalhos e empenhos, é tão difícil de descrever o que sentimos, como também entender o que se passa conosco quando esse reconhecimento torna-se concreto. E como foi maravilhoso quando meus colegas de trabalho, grandes homens, decidiram que eu seria o merecedor do Prêmio Nobel de Física de 1922!
Ainda nessa época escrevi:
"Ainda bem que chegamos a um paradoxo. Agora, há esperança de conseguirmos algum progresso!", devido a grande distância entre o mundo físico cotidiano e as descrições matemáticas da ordenação subatômica, que permite paradoxos como o comportamento de onda e de partícula dos elétrons.
Fiquei tão entusiasmado com isso, que no mesmo ano queria mostrar agora, oficialmente, minha idéia para o mundo, por isso escrevi o livro: "The Theory of Spectra and Atomic Constitution" que explica tudo sobre como cheguei as minhas conclusões depois de muitas pesquisas. O sucesso foi tanto que em 1924 houve a republicação!
Vejamos bem, em 1927, eu juntamente com Wener Heisenberg, cheguei ao princípio da incerteza da teoria quântica, tanto que cheguei a pensar que: "qualquer um que não se choque com a mecânica quântica é porque não a entendeu direito.".
Três anos depois, 1930, as atividades no Instituto da Dinamarca eram cada vez mais voltadas para pesquisa na constituição dos núcleos atômicos, e de suas transmutações e desintegrações. Minha felicidade era incomum e minha vontade de ir além, mais ainda. Prossegui me dedicando a estudar dessa vez a estrutura dos átomos complexos, a natureza das radiações X, as variações progressivas das propriedades químicas dos elementos e o estudo do núcleo atômico, principal responsável pela interpretação do fenômeno da fissão do urânio, que, posteriormente, abriu caminho para a utilização da energia nuclear.
Passaram-se mais alguns anos, até que em 1933, eu e meu aluno Wheeler aprofundamos teorias sobre a compreensão do mecanismo da fissão nuclear devido à quebra do urânio 235, e tivemos como retrato muito parecido ao original do núcleo, uma gota líquida. Um tempo depois, devido a mais alguns aprofundamentos feitos, provamos a descoberta de um novo elemento, o Plutônio.
Diante a essa nova teoria sobre o urânio e a descoberta do Plutônio, publiquei o livro "Atomic Theory and the Descripition of Nature" em 1934.
Em 1937 fui convidado a participar da quinta conferência de física teórica, em Washington, onde defendi a tese sobre fissão do urânio. Rogava com unhas e dentes que um núcleo atômico de massa instável é como uma gota que se rompe. Três semanas depois esta teoria foi publicada na "Psicalgia Review".
Algum tempo mais tarde me mudei para a Inglaterra devido à ocupação nazista na Dinamarca, tendo em vista que minha mulher é judia e que isso seria por em risco nossas vidas, com filhos ainda pequenos fui capaz de abandonar todo meu progresso para não arriscar a vida dos meus. E pensar que este movimento nazista surgiu a partir das idéias "revolucionarias" de um de meus brilhantes alunos...é realmente deplorável...
Era 1938, havia um ano que me mudara para a Inglaterra, foi então que surgiu a oportunidade de morar nos Estados Unidos onde pude ocupar o cargo de consultor do laboratório de energia atômica de Los Alamos. Iniciava-se lá, um novo projeto por alguns dos cientistas mais renomados do mundo.
Nossa! Quantas conquistas! Mais do que nunca eu via o mundo com olhos de criança. Curioso, inquieto e maravilhado.
Porém, em um instante, em um único instante, tudo pelo que eu havia lutado, tudo o que eu havia conquistado, desmoronou sobre mim. E pior, sobre milhares de pessoas mais.
Foi durante os anos de 1943 a 1945, uma das piores épocas de minha vida. Uma nova forma de energia nuclear estava sendo descoberta por mim e por outros.
Após essa grande inovação, juntamente com Einstein e mais alguns, doei-me em busca e produção de conhecimento. Passávamos horas pensando, imaginando, sonhando. Contudo, o sonho pelo qual corremos atrás, tornou-se um pesadelo.
Acreditando que o projeto que participava iria ajudar e não causar uma destruição terrível, me dediquei e fui fiel até o fim, foi quando percebi o tamanho do erro que eu e meus companheiros estávamos cometendo. Assim, parti ao encontro dos dois chefes de estado Churchill e Roosevelt, apelando para que não construíssem a bomba, devido a grande situação de perigo que poderia causar para a humanidade.
De repente, meu desejo da utilização da ciência em prol da bondade do ser humano, tornou-se principal arma de poderosos sem limites, causando o horror, a tristeza e a desgraça para muitos, e tudo devido à busca incessante do poder.
Eu realmente tentei. A cada momento que passava minha mente rodopiava em minha cabeça só de cogitar a idéia de que tudo o que acontecia naquele momento devia-se também a mim.
Mas minha tentativa foi em vão, pois em julho de 45 a notícia chegou. A queda da bomba, a primeira, em fase de teste, explodiu em Los Alamos, e um mês depois foi jogada contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki, com uma diferença de apenas três dias... Dias que tiraram a vida de milhões de pessoas e devastaram toda uma nação. Não me perdôo, não consigo me perdoar diante de uma atrocidade que sei que fui participante, que sei que sem minha participação talvez as coisas não fossem assim...
Ela explodiu e dizimou, não só as localidades orientais, mas também a uma parte de mim.
Mesmo diante disso, após a guerra, ainda em 45 regressei à Dinamarca e lá fui eleito presidente da academia de ciências.
Durante 5 torturantes anos eu não fui capaz de fazer muito, até que em 1950 escrevi a "Carta aberta" às Nações Unidas em defesa da preservação da paz, algo que por mim é considerado como indispensável para a liberdade de pensamentos e pesquisas, pois não temos que estar ligados à guerra para fazermos grandes descobertas. Organizei então a primeira conferência "Átomos pela Paz" que aconteceu em Genebra, na Suíça, cerca de um ano depois.
Em 1955 escrevi o livro "The unity of knowledge", dois anos depois em 1957 recebi o prêmio "Átomos pela paz" o que me deixou imensamente feliz. Saber que agora estava fazendo pelo menos um pouco em comparação aos muitos que tinha ajudado a matar 10 anos atrás, e ainda por cima saber que fui tão honrosamente homenageado pela organização que eu mesmo criei, realmente foi algo maravilhoso.
Mas nem tudo foi tão bom, pois daquela época pra cá tenho adoecido, algo que só piora a cada dia, e como já disse, sinto que não permanecerei aqui por muito mais tempo, portanto, só tenho a agradecer aos meus filhos e esposa que sem eles não chegaria aonde cheguei. Lamento ter causado o que causei e espero que em tempos futuros, minhas descobertas sirvam para alguma coisa, já me sinto importante apesar de instintivamente culpado por ter causado tanta dor e sofrimento em uma época já remota.
Muito procurei fazer pela minha sociedade, pelos meus semelhantes. Busquei de todas as formas o conhecimento e a melhoria de vida do homem. E o meu objetivo ao escrever, quem sabe pela ultima vez diário,vai muito alem de simplesmente manter a lucidez, como os médicos afirmam, e sim deixar tudo o que fiz para os que virão.
Não quero ser visto como alguém fora do comum, mas como um comum que foi fora de si, fora do egoísmo e da mediocridade. E se para alguma coisa serviu ou deve servir meu projeto, que sirva para incentivar os seus, pois existem pessoas e pessoas, e só estas pessoas serão capazes de criar, transformar e reformar as situações que vivemos.
Em alguns momentos tentei decifrar o sentido da vida, em outros a desacreditava. Agora, porém, já próximo do fim, percebo que não há sentido algum dizer que a vida não tem sentido, e, principalmente, que esse ínfimo conhecimento que tanto perseguimos, deve ser utilizado em fins pacíficos, pois, conheci a vida o suficiente para entender o mal que ele pode causar, se deixado em mãos erradas.
Niels Henrick David Bohr
"Existem pessoas e pessoas. E muitas situações. Pessoas que sonham, e logo acordam; pessoas que correm atrás de seus sonhos; e pessoas que têm seus sonhos desfeitos ou negligenciados..".
Então diário...
Essa manhã ao acordar, me dei conta de algo que já deveria ter percebido.Pensei e principalmente senti que o meu fim está próximo, a trombose já me afeta bastante e agora meu corpo se resume a dor.
Entretanto ao analisar a situação por outro ângulo, percebi que cheguei a um lugar de importância que nunca imaginei. Quem diria que um garoto que estudava na escola de gramática de Gammelholm cujas pretensões se resumiam a estudar, descobrir e amar chegaria até este ponto? E do auge de meus 77 anos posso afirmar que a sorte caminhou ao meu lado.
É, coisas estranhas acontecem com indivíduos comuns,assim como eu, mas não começou do nada, na verdade o início de tudo, de fato, ocorreu em 7 de outubro de 1885, um dos dias mais especiais para meus pais Ellen Adler e Christian Bohr, e para meus irmãos Jenny e Harold, o dia do meu nascimento! Aconteceu aqui mesmo em Copenhague, na casa de minha avó materna, o Palácio Rei Georg, que ainda se considerava a mais bela residência da localidade.
E por sinal devo tudo a eles, meus queridos pais, que exerceram suas funções como tais, ensinando a mim e meus irmãos coisas maravilhosas e valores preciosos dentro de nossas crenças, principalmente minha mãe, uma mulher judia.
Meu pai fora, também, um homem de vital importância em nossas vidas. Professor e detentor do saber de que só o conhecimento proporcionaria à humanidade vôos mais altos, incentivou a mim, principalmente, de tal maneira, ao ponto de fazer-me encantar pelos estudos e pela ciência. Recordo-me de tantos fatos familiares... Como, o quanto eu e meu irmão Harold, já sendo alunos da universidade de Copenhague, sonhávamos em ser jogadores de futebol, já éramos até conhecidos nos países escandinavos como membros iminentes dos times "dinamarqueses todos"! Éramos excelentes é claro! Este era o ano de 1908.
Mas, foi em 1903 que entrei na escola de gramática de Gammelholm e, seis anos depois, o meu mestre C. Christiansen outorgou-me com mestrado em física, e depois de 2 anos fui à busca do doutorado que em 1911acabei por conseguir.
A partir de então comecei, de fato, a deparar-me com as situações e realidades que me trouxeram até aqui. Não me lembro ao certo onde, mas provavelmente na universidade, ouvi falar sobre um desafio da sociedade cientifica dinamarquesa. Eles estavam propondo um problema científico de como poderíamos medir a altura de um arranha-céu usando um barômetro. Já estava cansado das respostas comuns, então propus o seguinte:
"Amarre uma longa corda à parte mais alta do barômetro, a seguir faça baixar o barômetro do telhado do arranha-céu até o chão. O comprimento da corda mais o comprimento do barômetro será igual à altura do edifício."
Depois de muita aversão por parte dos juízes e de ter provado minha teoria, dito e feito! Ganhei uma medalha de ouro e um arquivo publicado na "Transactions of the Royal Society".
Ainda em 1911 mudei-me para Cavendish em Cambridge, Inglaterra, e lá tive a incrível oportunidade de trabalhar com J.J. Thomson, e ali mesmo conheci um de meus melhores amigos: Ernest Rutherford, com quem fui trabalhar um ano depois em Manchester.
E lá, no ano de 1912, o primeiro momento mais feliz da minha vida: casei-me com Margrethe Nnorlund, o meu grande amor! Lembro-me perfeitamente. Era uma linda manhã de verão e Margrethe estava bonita como nenhuma outra, o vestido branco me hipnotizou e os olhos lindos dela me dominaram, e dominam até hoje é claro! Essa mulher espetacular me deu muitos presentes, entre eles os meus seis filhos, apesar de dois, infelizmente, terem morrido.
Mas, voltemos a falar sobre Ernest. É, ele me ensinou muitas coisas, não foi à toa que um de meus filhos recebeu seu nome em homenagem, mas de fato, o maior presente de Ernest para mim, foi a experiência que adquiri!
Foi por causa dele e de seu modelo atômico que, em 1913, fui capaz de me aprofundar mais nos estudos sobre o assunto, descobrindo assim uma pequena falha em seu modelo:
Ele afirmava que os elétrons eram fixos, porém certa vez ao observar e estudar átomos de hidrogênio, descobri que, na verdade, eles estavam dispostos de uma maneira diferente, se movendo em trajetórias circulares ao redor do núcleo. Descobri também que eles podiam saltar de uma camada para outra, desde que absorvessem energia externa.
Publiquei esse novo modelo em relação à teoria quântica de Planck, estudo que estendi até chegar a essa conclusão. Os elétrons absorvem e emitem energia radiante, fenômeno particularmente visível na análise dos espectros luminosos produzidos por diferentes elementos. Descobri também que os elétrons não emitiam radiações enquanto permanecesse na mesma órbita, emitindo-as apenas quando deslocado de um nível de maior energia para um nível mais distante do núcleo, onde a sua energia cinética tende a diminuir enquanto que sua energia potencial tende a aumentar.
No entanto, minha tese não foi bem aceita, não ainda, pois tive que esperar 9 anos!
Ah! Neste ano também publiquei, na "Philosophical Magazine" um artigo sobre a absorção dos raios alpha, onde tive como base o modelo atômico de Rutherford.
Com 28 anos de idade, já era um físico famoso e com uma brilhante carreira. Foi aí, que em 1914 recebi um convite muito bom, e o aceitei! Trabalhei como professor de física teórica na universidade de Victoria, em Manchester, meus alunos tiveram que me suportar até 1916 quando retornei a Copenhague e lá me tornei professor.
Durante quatro anos ali atuei como professor, até que em 1920 fui nomeado diretor do Instituto de Física Teórica. Foram anos revolucionários! A cada dia que passava eu via nascer um novo gênio. E vi nascer um gênio literalmente, pois nesse ano nasce meu quarto filho, Aage Niels Bohr, este que também seguiu pelos mesmos caminhos que eu tomei, tornando-se um esplêndido físico. Aaté que em 1922 as coisas viraram.
Neste ano o tão esperado aconteceu! Eu finalmente recebi o comunicado de que a minha teoria sobre o modelo atômico em relação à teoria de Planck estava correta (algo que eu sempre soube). É gratificante sermos reconhecidos por nossos trabalhos e empenhos, é tão difícil de descrever o que sentimos, como também entender o que se passa conosco quando esse reconhecimento torna-se concreto. E como foi maravilhoso quando meus colegas de trabalho, grandes homens, decidiram que eu seria o merecedor do Prêmio Nobel de Física de 1922!
Ainda nessa época escrevi:
"Ainda bem que chegamos a um paradoxo. Agora, há esperança de conseguirmos algum progresso!", devido a grande distância entre o mundo físico cotidiano e as descrições matemáticas da ordenação subatômica, que permite paradoxos como o comportamento de onda e de partícula dos elétrons.
Fiquei tão entusiasmado com isso, que no mesmo ano queria mostrar agora, oficialmente, minha idéia para o mundo, por isso escrevi o livro: "The Theory of Spectra and Atomic Constitution" que explica tudo sobre como cheguei as minhas conclusões depois de muitas pesquisas. O sucesso foi tanto que em 1924 houve a republicação!
Vejamos bem, em 1927, eu juntamente com Wener Heisenberg, cheguei ao princípio da incerteza da teoria quântica, tanto que cheguei a pensar que: "qualquer um que não se choque com a mecânica quântica é porque não a entendeu direito.".
Três anos depois, 1930, as atividades no Instituto da Dinamarca eram cada vez mais voltadas para pesquisa na constituição dos núcleos atômicos, e de suas transmutações e desintegrações. Minha felicidade era incomum e minha vontade de ir além, mais ainda. Prossegui me dedicando a estudar dessa vez a estrutura dos átomos complexos, a natureza das radiações X, as variações progressivas das propriedades químicas dos elementos e o estudo do núcleo atômico, principal responsável pela interpretação do fenômeno da fissão do urânio, que, posteriormente, abriu caminho para a utilização da energia nuclear.
Passaram-se mais alguns anos, até que em 1933, eu e meu aluno Wheeler aprofundamos teorias sobre a compreensão do mecanismo da fissão nuclear devido à quebra do urânio 235, e tivemos como retrato muito parecido ao original do núcleo, uma gota líquida. Um tempo depois, devido a mais alguns aprofundamentos feitos, provamos a descoberta de um novo elemento, o Plutônio.
Diante a essa nova teoria sobre o urânio e a descoberta do Plutônio, publiquei o livro "Atomic Theory and the Descripition of Nature" em 1934.
Em 1937 fui convidado a participar da quinta conferência de física teórica, em Washington, onde defendi a tese sobre fissão do urânio. Rogava com unhas e dentes que um núcleo atômico de massa instável é como uma gota que se rompe. Três semanas depois esta teoria foi publicada na "Psicalgia Review".
Algum tempo mais tarde me mudei para a Inglaterra devido à ocupação nazista na Dinamarca, tendo em vista que minha mulher é judia e que isso seria por em risco nossas vidas, com filhos ainda pequenos fui capaz de abandonar todo meu progresso para não arriscar a vida dos meus. E pensar que este movimento nazista surgiu a partir das idéias "revolucionarias" de um de meus brilhantes alunos...é realmente deplorável...
Era 1938, havia um ano que me mudara para a Inglaterra, foi então que surgiu a oportunidade de morar nos Estados Unidos onde pude ocupar o cargo de consultor do laboratório de energia atômica de Los Alamos. Iniciava-se lá, um novo projeto por alguns dos cientistas mais renomados do mundo.
Nossa! Quantas conquistas! Mais do que nunca eu via o mundo com olhos de criança. Curioso, inquieto e maravilhado.
Porém, em um instante, em um único instante, tudo pelo que eu havia lutado, tudo o que eu havia conquistado, desmoronou sobre mim. E pior, sobre milhares de pessoas mais.
Foi durante os anos de 1943 a 1945, uma das piores épocas de minha vida. Uma nova forma de energia nuclear estava sendo descoberta por mim e por outros.
Após essa grande inovação, juntamente com Einstein e mais alguns, doei-me em busca e produção de conhecimento. Passávamos horas pensando, imaginando, sonhando. Contudo, o sonho pelo qual corremos atrás, tornou-se um pesadelo.
Acreditando que o projeto que participava iria ajudar e não causar uma destruição terrível, me dediquei e fui fiel até o fim, foi quando percebi o tamanho do erro que eu e meus companheiros estávamos cometendo. Assim, parti ao encontro dos dois chefes de estado Churchill e Roosevelt, apelando para que não construíssem a bomba, devido a grande situação de perigo que poderia causar para a humanidade.
De repente, meu desejo da utilização da ciência em prol da bondade do ser humano, tornou-se principal arma de poderosos sem limites, causando o horror, a tristeza e a desgraça para muitos, e tudo devido à busca incessante do poder.
Eu realmente tentei. A cada momento que passava minha mente rodopiava em minha cabeça só de cogitar a idéia de que tudo o que acontecia naquele momento devia-se também a mim.
Mas minha tentativa foi em vão, pois em julho de 45 a notícia chegou. A queda da bomba, a primeira, em fase de teste, explodiu em Los Alamos, e um mês depois foi jogada contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki, com uma diferença de apenas três dias... Dias que tiraram a vida de milhões de pessoas e devastaram toda uma nação. Não me perdôo, não consigo me perdoar diante de uma atrocidade que sei que fui participante, que sei que sem minha participação talvez as coisas não fossem assim...
Ela explodiu e dizimou, não só as localidades orientais, mas também a uma parte de mim.
Mesmo diante disso, após a guerra, ainda em 45 regressei à Dinamarca e lá fui eleito presidente da academia de ciências.
Durante 5 torturantes anos eu não fui capaz de fazer muito, até que em 1950 escrevi a "Carta aberta" às Nações Unidas em defesa da preservação da paz, algo que por mim é considerado como indispensável para a liberdade de pensamentos e pesquisas, pois não temos que estar ligados à guerra para fazermos grandes descobertas. Organizei então a primeira conferência "Átomos pela Paz" que aconteceu em Genebra, na Suíça, cerca de um ano depois.
Em 1955 escrevi o livro "The unity of knowledge", dois anos depois em 1957 recebi o prêmio "Átomos pela paz" o que me deixou imensamente feliz. Saber que agora estava fazendo pelo menos um pouco em comparação aos muitos que tinha ajudado a matar 10 anos atrás, e ainda por cima saber que fui tão honrosamente homenageado pela organização que eu mesmo criei, realmente foi algo maravilhoso.
Mas nem tudo foi tão bom, pois daquela época pra cá tenho adoecido, algo que só piora a cada dia, e como já disse, sinto que não permanecerei aqui por muito mais tempo, portanto, só tenho a agradecer aos meus filhos e esposa que sem eles não chegaria aonde cheguei. Lamento ter causado o que causei e espero que em tempos futuros, minhas descobertas sirvam para alguma coisa, já me sinto importante apesar de instintivamente culpado por ter causado tanta dor e sofrimento em uma época já remota.
Muito procurei fazer pela minha sociedade, pelos meus semelhantes. Busquei de todas as formas o conhecimento e a melhoria de vida do homem. E o meu objetivo ao escrever, quem sabe pela ultima vez diário,vai muito alem de simplesmente manter a lucidez, como os médicos afirmam, e sim deixar tudo o que fiz para os que virão.
Não quero ser visto como alguém fora do comum, mas como um comum que foi fora de si, fora do egoísmo e da mediocridade. E se para alguma coisa serviu ou deve servir meu projeto, que sirva para incentivar os seus, pois existem pessoas e pessoas, e só estas pessoas serão capazes de criar, transformar e reformar as situações que vivemos.
Em alguns momentos tentei decifrar o sentido da vida, em outros a desacreditava. Agora, porém, já próximo do fim, percebo que não há sentido algum dizer que a vida não tem sentido, e, principalmente, que esse ínfimo conhecimento que tanto perseguimos, deve ser utilizado em fins pacíficos, pois, conheci a vida o suficiente para entender o mal que ele pode causar, se deixado em mãos erradas.
Niels Henrick David Bohr
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